Um ativo, Um gráfico, Uma lição: Ouro
Há momentos em que um gráfico parece tão esticado que o instinto diz: “Isso vai recuar em breve.” O ouro deu exatamente essa sensação durante grande parte de outubro. Subiu rapidamente e quase não fez pausas. Cada correção foi pequena e de curta duração. E se você olhasse qualquer indicador típico de momentum (como o RSI), veria a mesma mensagem repetida: sobrecomprado.
Ouro (XAU/USD) com RSI (setembro a dezembro de 2025)

Fonte: TradingView. Todos os índices são retorno total em dólares americanos. Desempenho passado não é um indicador confiável de resultados futuros. Dados de 10 de dezembro de 2025.
Um forte rali em outubro manteve o RSI elevado. Apesar de parecer “sobrecomprado”, o ouro continuou a subir. As correções em novembro encontraram suporte e a estrutura se manteve até dezembro.
Para muitos traders, isso é um alerta vermelho. “Hora de operar vendido”, pensam. “Isso não pode continuar para sempre.” Mas aqui está o ponto: às vezes pode sim. Essa é a lição que este gráfico ensina.
Vamos começar pela estrutura. Do final de setembro até a segunda metade de outubro, o ouro subiu quase em linha reta. O gráfico de 1 hora que você está vendo mostra uma tendência de alta clara e agressiva. Não foram apenas algumas velas empurrando para cima, mas sessões seguidas de momentum forte, com correções rasas e topos cada vez maiores. Poderíamos chamar isso de um “melt-up”, mas não foi desordenado. Foi sólido.
É aqui que muitos traders começam a ter problemas. Quando o preço se move dessa forma e os indicadores começam a piscar “sobrecomprado”, o instinto é apostar contra. Mas o que realmente está acontecendo? O preço está sendo sustentado, correções estão sendo rapidamente absorvidas e cada repique ocorre em um nível mais alto. Isso não é exaustão — é participação ativa dos compradores. Eles estão no controle.
Naturalmente, o movimento eventualmente recuou. O topo do final de outubro deu lugar a uma queda brusca. Quem estava vendido antes provavelmente se sentiu validado. Mas o interessante é: essa queda não quebrou a estrutura. Foi profunda, sim. Mas o que veio depois não foi colapso, e sim recuperação.
Ao longo de novembro, o ouro se estabilizou. Lateralizou, reconstruiu suporte e voltou a subir na segunda metade do mês. Em dezembro, o ritmo não era tão extremo quanto em outubro, mas a força ainda estava presente. E tudo isso ocorreu enquanto o preço se manteve bem acima da base de setembro. Isso é o que realmente importa.
O erro que muitos cometem (principalmente em gráficos intraday) é tratar RSI e outros indicadores de momentum como sinais de alerta definitivos, em vez de pistas de contexto. O RSI não prevê reversão — ele reflete a força do movimento atual. Quando algo como o ouro está em forte tendência, estar “sobrecomprado” não é sinal de venda — é sinal de que os compradores estão determinados.
E quando a tendência é apoiada por temas macro como expectativas de juros, preocupações com inflação ou demanda por porto seguro, esses movimentos fortes podem durar mais do que se imagina. Foi exatamente o que vimos neste gráfico. O mercado tinha motivos para subir e continuou subindo, mesmo com ferramentas de curto prazo indicando esticamento.
Então, o que você deve levar disso? Da próxima vez que vir um movimento assim, não se prenda a um único número ou indicador. Observe o comportamento do preço. Está respeitando níveis importantes? As correções continuam sendo compradas? A direção maior ainda está intacta? Se a resposta for sim — pode não ser reversão, mas simplesmente uma tendência fazendo o seu trabalho!
O ouro não parou de subir porque o RSI estava alto. Ele recuou quando o momentum realmente acabou — e mesmo assim, os compradores voltaram. A verdadeira lição: forte não significa finalizado. Sobrecomprado não significa encerrado. Uma tendência só termina quando a estrutura é quebrada e a participação enfraquece.
Um ativo. Um gráfico. Uma lição.