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Ações dos EUA vs Europa: quem está liderando o rali pós-corte de juros?

Oct 07, 2025 3:27 PM

Após dois longos anos de aumentos nas taxas de juros, o pêndulo finalmente mudou de direção. Tanto o Federal Reserve (Fed) quanto o Banco Central Europeu (BCE) começaram a cortar as taxas, aliviando as condições financeiras que vinham sendo apertadas desde 2022. No entanto, o interessante é que os mercados em ambos os lados do Atlântico não estão reagindo da mesma maneira.

O mercado americano parece caro, enquanto o europeu ainda é negociado com um grande desconto. O S&P 500 está sendo negociado a cerca de 22 vezes o lucro futuro — próximo de seus níveis mais altos da história — enquanto o STOXX 600 está em torno de 13–15 vezes, uma das maiores diferenças de avaliação em décadas. Naturalmente, os investidores se perguntam: com a política monetária ficando mais branda, quem tem mais potencial de alta — os EUA ou a Europa?

Durante anos, os fundos globais foram fortemente posicionados nos EUA e subponderados na Europa. Mas essa tendência está começando a mudar. Desde o início dos cortes de juros, as pesquisas de meados de 2025 mostram gestores de fundos migrando para ações europeias e reduzindo a exposição americana. Ainda não está claro se essa mudança será temporária ou duradoura.

Fatores-chave

Embora tanto o Fed quanto o BCE estejam reduzindo os juros, o ritmo é diferente. O mercado espera cerca de 150 pontos-base em cortes por parte do Fed até o final de 2025 — muito mais do que o indicado pelo BCE. Isso cria tons diferentes em cada região: nos EUA, os investidores comemoram o dinheiro barato e o impulso da tecnologia, enquanto na Europa, cortes mais lentos tornam o otimismo mais moderado.

As ações americanas são negociadas com um prêmio quase recorde; a Europa continua historicamente barata. Pagar o dobro por cada dólar de lucro nos EUA em comparação à Europa não agrada a todos os investidores. O desconto atrai caçadores de valor que acreditam que a Europa pode finalmente alcançar os EUA se o crescimento se estabilizar.

O mercado dos EUA é fortemente concentrado em tecnologia — hoje o setor representa cerca de um terço do S&P 500. Assim, quando as taxas caem, as gigantes de tecnologia sobem primeiro. Já a Europa depende mais de bancos, indústrias e bens de luxo — mais da “economia real” do que da “economia digital”. Isso significa que os EUA lideram os ralis impulsionados pelo crescimento, enquanto a Europa brilha quando as ações de valor e cíclicas voltam ao foco.

O posicionamento dos investidores conta a mesma história. No início de 2025, os fundos de ações europeias receberam fortes entradas de capital, à medida que investidores globais reduziam a exposição a ações americanas caras. No entanto, com a recuperação das ações de tecnologia nos EUA, parte desse dinheiro voltou para lá. Por enquanto, o capital continua oscilando entre as duas regiões.

Desempenho das Ações EUA vs Europa em 2025

Gráfico de linhas comparando o desempenho acumulado em 2025 do S&P 500 (vermelho) e do STOXX Europe 600 (verde). O S&P 500 sobe 14,85%, enquanto o STOXX 600 avança 11,66%.

Fonte: TradingView. Todos os índices são de retorno total em dólares americanos. O desempenho passado não é um indicador confiável de resultados futuros. Dados até 7 de outubro de 2025.

Desde o início dos cortes de juros, as ações americanas continuam subindo, enquanto a recuperação europeia permanece mais estável, porém mais lenta.

Fundamentos: Avaliação, Lucros e Balanços

Em termos simples, as ações dos EUA são caras porque as expectativas são altas, enquanto as avaliações mais baixas da Europa refletem ceticismo — mas também potencial. O S&P 500 negocia a 22 vezes o lucro projetado, contra 13–15 vezes na Europa. Isso significa que as empresas americanas precisam entregar resultados quase perfeitos para justificar seus preços, enquanto na Europa basta “não ser ruim” para surpreender positivamente.

O crescimento dos lucros também ajuda a explicar a diferença. Os analistas esperam que os lucros corporativos dos EUA cresçam cerca de 15% em 2025, impulsionados pela tecnologia e pelo consumo forte. Na Europa, o crescimento dos lucros é mais modesto, em torno de 10%, mas melhorando após a queda do ano anterior. Em outras palavras, a Europa está se recuperando, embora ainda não com o mesmo brilho dos EUA.

Outra diferença é a forma como as empresas recompensam seus acionistas. As companhias americanas preferem recompras de ações — mais de US$ 1 trilhão foi anunciado em 2024 — enquanto as empresas europeias optam por dividendos, oferecendo rendimentos mais altos. Culturalmente, é distinto: as americanas elevam o lucro por ação via recompras; as europeias pagam um fluxo constante de dividendos. Ambas as abordagens são atraentes, dependendo se o investidor busca crescimento ou renda.

Financeiramente, ambas as regiões estão em boa forma. Os balanços das empresas americanas têm mais dívidas, mas também mais caixa. As companhias europeias tendem a ser mais conservadoras — isso limita os ganhos em tempos de bonança, mas aumenta a resiliência durante desacelerações. Em resumo, os EUA estão precificados para a perfeição, enquanto a Europa, com expectativas mais baixas, tem mais espaço para surpresas positivas.

Ventos favoráveis e desafios macroeconômicos

A desaceleração da inflação reduziu a pressão sobre os bancos centrais, permitindo-lhes cortar taxas sem reacender o aumento dos preços. O BCE já cortou as taxas três vezes, reduzindo a taxa de depósito para 2,0%. A liquidez está melhorando, as condições de crédito estão afrouxando e os mercados finalmente encontram um vento favorável após anos de aperto.

O euro mais forte — cerca de 10–15% de valorização em relação ao dólar em 2025 — também ajudou os ativos europeus, aumentando os retornos para investidores em dólar. Enquanto isso, a manufatura global se recupera lentamente, apoiando os setores exportadores da Europa. No geral, o cenário macroeconômico é mais positivo do que tem sido em anos.

No entanto, os riscos permanecem. A inflação pode continuar resistente, forçando o Fed ou o BCE a interromper os cortes. O crescimento europeu segue fraco, perto de zero, e se a recuperação da China perder força, os exportadores europeus serão afetados. Nos EUA, as avaliações elevadas são vulneráveis — se o boom da IA esfriar ou as margens de lucro diminuírem, o mercado pode balançar. E a geopolítica nunca dorme: tarifas, eleições ou volatilidade cambial podem rapidamente mudar o humor do mercado.

Conclusão

Ambas as regiões têm narrativas convincentes, mas diferentes. Os EUA possuem motores de crescimento e confiança dos investidores, mas estão caros. A Europa oferece valor, dividendos e espaço para recuperação se o sentimento melhorar.

Os EUA correm rápido, mas com custo alto; a Europa avança devagar, mas com preços atraentes. A liderança pode mudar conforme os lucros e os fluxos de capital. Por enquanto, Wall Street ainda está à frente, mas o desconto europeu é grande demais para ser ignorado. Num mundo em que os cortes de juros retornam e o medo da recessão diminui, talvez o melhor seja manter um pé em cada lado — pois o verdadeiro vencedor desse rali ainda não foi definido.