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Porque é que o preço do petróleo influencia tudo — até as suas ações tecnológicas

Nov 13, 2025 12:41 PM

O petróleo é frequentemente chamado o “batimento cardíaco” da atividade global. Representa cerca de 3% do PIB mundial e está presente “em tudo, desde equipamento de proteção individual, plásticos, produtos químicos e fertilizantes até… combustível para transportes”. Por isso, quando os preços do petróleo se movimentam, os efeitos estendem-se muito além dos produtores de energia. Até as empresas de tecnologia sentem os impactos. Vamos ver porquê.

O petróleo como custo em toda a economia

O petróleo toca praticamente todos os setores. O seu preço influencia diretamente o transporte e a logística (camiões, aviões e navios precisam de combustível), a produção industrial e a fabricação de plásticos e produtos químicos. Na verdade, o petróleo é a matéria-prima principal da maioria dos plásticos, por isso a oscilação dos preços “impacta diretamente os custos de produção e as despesas da cadeia de abastecimento”.

  1. Transporte e envio: Preços mais altos do petróleo significam gasolina e gasóleo mais caros. Isso aumenta o custo de transportar bens — desde produtos agrícolas até eletrónica de consumo.
  2. Produção e plásticos: Muitos dos insumos industriais são derivados do petróleo. Quando o petróleo sobe, os custos dos plásticos e outros materiais aumentam.
  3. Bens e serviços de consumo: Os custos adicionais não ficam num só lugar. Preços elevados do petróleo “aumentam os custos das empresas… Quer se trate de tarifas de táxi mais altas, bilhetes de avião mais caros, maçãs enviadas da Califórnia ou móveis novos enviados da China, os preços elevados do petróleo podem resultar em preços mais altos para produtos e serviços que parecem não estar relacionados”.

Em resumo, cada grande movimento no preço do petróleo altera os custos de produção e logística em vários setores. Esta pressão sobre as margens de lucro acaba por aparecer nos relatórios de resultados das empresas — mesmo daquelas muito distantes dos campos petrolíferos.

Petróleo e inflação: A reação em cadeia

A subida dos preços do petróleo desencadeia uma reação em cadeia bem conhecida na economia e nos mercados:

  • Custos mais altos ⇒ Inflação: O petróleo é um importante fator económico. Quando o crude sobe, aumenta tanto a inflação de produtores como de consumidores. Os custos de gasolina e transporte aumentam, e o mesmo acontece com os materiais derivados de petróleo (plásticos, químicos), afetando assim os preços de muitos bens.
  • Resposta dos bancos centrais: À medida que a inflação sobe, os bancos centrais tendem a apertar a política monetária (ou adiar cortes de juros). Na prática, isto significa que as taxas de juro de curto e longo prazo tendem a subir.
  • Rendimentos mais altos pressionam ações de crescimento: Taxas de juro mais elevadas significam rendimentos de obrigações mais altos. Como as valorizações das ações (especialmente de empresas tecnológicas) se baseiam no valor presente dos lucros futuros, rendimentos mais altos comprimem essas valorizações. Em outras palavras, “quando o rendimento é baixo, pode impulsionar os preços das ações porque o valor presente dos lucros futuros é mais alto. Um rendimento mais alto pode levar a valorizações mais baixas”.

Em termos simples, uma subida da inflação causada pelo petróleo pode forçar o aumento das taxas de juro, o que, por sua vez, torna as ações de crescimento — especialmente tecnológicas, que dependem fortemente de lucros futuros — menos atrativas. As ações tecnológicas, que geralmente são negociadas com múltiplos elevados, sentem essa pressão de forma mais intensa.

Petróleo vs Tecnologia: Um ano de divergência

Fonte: TradingView. Todos os índices são de retorno total em dólares americanos. O desempenho passado não é um indicador fiável de desempenho futuro. Dados de 12 de novembro de 2025.

Petróleo em queda, tecnologia em alta. Este gráfico mostra como a queda do crude em 2025 coincidiu com a subida do NASDAQ — um exemplo clássico de como choques do petróleo podem alterar o apetite pelo risco.

Sentimento de risco e a rotação entre crescimento e segurança

Para além dos custos e da inflação, os movimentos do petróleo afetam a psicologia do investidor. Um pico súbito do petróleo pode desencadear uma postura de aversão ao risco. Quando a inflação impulsionada por matérias-primas parece urgente, os investidores muitas vezes rodam para fora das ações tecnológicas e entram em apostas defensivas (utilidades, bens de consumo essenciais ou obrigações do governo). Quando o petróleo estabiliza, o apetite pelo risco pode regressar.

Alguns analistas até consideram o preço do petróleo um indicador macroeconómico: quando a inflação movida por energia está controlada, os ativos de risco (tecnologia e ações de crescimento) tendem a ser beneficiados. Um relatório recente observou que um alívio da pressão dos preços de energia provavelmente faria o dinheiro fluir do setor energético para áreas como tecnologia e IA, que “podem beneficiar de uma inflação de custos de matérias-primas mais fraca”. Em suma, quando o medo do petróleo diminui, as ações tecnológicas de múltiplos elevados tendem a recuperar. Quando o medo aumenta, a tecnologia pode cair mais depressa do que a maioria dos setores.

O petróleo como barómetro do crescimento global

O petróleo também atua como um barómetro em tempo real da economia global. Quando as economias aceleram, a procura e os preços do petróleo tendem a subir. Em contraste, quedas acentuadas do petróleo muitas vezes sinalizam uma desaceleração económica. (Por exemplo, em 2020, a procura de petróleo caiu drasticamente e os preços chegaram a ficar negativos durante os confinamentos da COVID.)

Em ambos os casos, grandes movimentos no petróleo redefinem as expectativas de crescimento. Uma subida acentuada pode estrangular a procura (aumentando custos e prejudicando o consumo), enquanto um colapso do preço pode refletir fraco crescimento. Em ambas as situações, as previsões de lucros corporativos mudam — e isso repercute nas valorizações de todos os setores. Mesmo as empresas tecnológicas, cujos custos estão mais associados a chips e software, acabam por ser avaliadas na mesma economia onde o petróleo influencia inflação, taxas de juro e procura.

Conclusão

O petróleo é muito mais do que um simples gráfico de matérias-primas. Está interligado com a inflação, custos de empréstimo, despesas de produção, apetite pelo risco e perspetivas de crescimento global. Como investidores, ignorar o papel do petróleo é perigoso. A tecnologia pode parecer distante dos campos petrolíferos, mas os seus preços de ações ainda dançam ao ritmo da mesma máquina económica global. Na prática, isso significa que investidores experientes olham para os movimentos do petróleo não como eventos isolados, mas como indicadores macro do sentimento do mercado. Observe-o atentamente… pode remodelar totalmente o perfil de risco do seu portfólio!